Curiosidade

"Golfinhos também se chamam pelo nome... mas ao som de assobios

Não é João. Nem Teresa. Mas funciona como nos humanos. Segundo um estudo divulgado ontem, os golfinhos também têm nome. É sob a forma de assobios, é certo, mas permite-lhes distinguirem-se entre si e chamarem-se uns aos outros. Uma descoberta que os torna únicos no reino animal.

A investigação partiu de um grupo de cientistas da St. Andrews University de Londres e debruçou-se sobre os golfinhos-roazes, como os que existem no Sado. O objectivo era verificar de que modo estes golfinhos usavam os seus assobios próprios para se identificarem - uma ideia já defendida em 1991.

Ao longo de três anos, a equipa estudou estes animais nas águas da baía de Sarasota, na Florida. Como explicou à BBC Vincent Janik, coordenador do estudo, o processo começou pelo recurso a redes, para capturar os golfinhos selvagens, quando se aproximavam da costa.

Aí, os investigadores gravaram os seus assobios, sintetizando-os depois num computador e retirando-lhes as características que diziam respeito à voz. O objectivo era garantir que os animais não iriam responder por reconhecerem o som das vozes dos companheiros, mas antes por reconhecerem o seu nome, independentemente de quem o pronunciava.

O passo seguinte foi voltar a passar os assobios - já sintetizados -, através de altifalantes instalados debaixo de água. Os resultados não desiludiram os especialistas: os mamíferos responderam aos assobios.

Mais: responderam sobretudo às gravações dos nomes dos seus familiares e membros próximos do seu grupo, ignorando os dos outros.

"Isto mostra que os golfinhos reconhecem o assobio-assinatura de cada um em vez de apenas a voz", comentou Vincent Janik, para quem esta é "uma descoberta emocionante". Afinal, explica o investigador, o estudo vem mostrar que "estes animais desenvolveram as mesmas capacidades que os humanos" e que "usam os mesmos rótulos que nós".

Para o cientista, citado pela National Geographic, o uso de assobios (nomes) para identificar os membros da espécie é particularmente vantajosa para os golfinhos-roazes, uma vez que vivem em grandes grupos e têm interacções sociais complexas. Ou seja, tal como os humanos, estes animais têm os seus amigos preferidos, com quem gostam de passar mais tempo. E, nas profundezas do oceano, onde as águas são turvas e a visibilidade escassa, dá jeito saber o nome dos companheiros, para evitar confusões...

Embora rara, a aprendizagem vocal é uma capacidade que não existe apenas nos golfinhos e nos seres humanos, mas também noutros animais, como os elefantes ou certo tipo de pássaros. No entanto, e graças a esta descoberta, os golfinhos-roazes tornam-se os únicos animais - para além do Homem - capazes de se chamarem... pelo nome.

O estudo está publicado na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, dos EUA, e foi patrocinado pela Royal Society of London.

Notícia retirada do DN do dia 10 de Maio de 2006